3 de julho de 2011

Fogueira

Acendi-a. Contemplei o fogo a subir, à medida que o fumo, seu acompanhante, criava espirais quentes no ar. Absorto, fascinado... ou cego admirei, inspirei e vivi a paixão escaldante que ela em mim causou.
Nunca fui tão feliz, em qualquer outro momento ou local. A fogueira ardeu em mim por mais tempo do que esperei ser possível, até me fazer acreditar que jamais se apagaria. Até que um dia, uma brisa maliciosa soprou. De início, as chamas da fogueira mal vacilaram, mas depois, a brisa passou a rajada. Não! A sucessivas rajadas.
As chamas decresceram e quase levaram a minha fé na, outrora, resplandecente fogueira que eu, tão ingenuamente, acendi. Esta não se apagou, mas não mais ardeu da mesma forma: sempre que o vento soprava, trazia os fantasmas do passado que a amedrontavam.
Ela resistiu, mas já não era a fogueira bela, apaixonante e familiar. Tornou-se doentia; perseguia-me e queimava-me a todo o instante. A dor que me causou enloqueceu-me e consumiu-me. Apaguei-a num acesso de fúria, para me arrepender imediatamente e irromper num choro convulsivo. As lágrimas que brotavam dos meus olhos evaporavam assim que tocavam a minha pele, fazendo desaparecer os últimos resquícios  da lembrança da minha adorada, mas maldita fogueira...

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