2 de maio de 2011

Consagração da Esquizofrenia (1ªa parte)

Saio à rua, sentindo de antemão a imersão corrosiva de olhares na minha direcção.
Os meus músculos contraem-se, os olhos abrem-se em alerta e sinto o meu coração inchado pela adrenalina que ribomba no meu peito (e quase lasca as minhas costelas).
O chão parece que vai desabar sob o peso dos prédios que parecem crescer e fechar-se sobre a minha cabeça.
Tenho que fugir! Tudo me quer apanhar!
Dou por mim, à medida que as gotas de suor gelado me escorrem pela testa e pela espinha, a gritar de medo e a cair ao chão, sem forças. No meio da minha agonia alguém me pergunta qualquer coisa, que eu não chego a ouvir, pois preocupo-me mais em fugir da sua mão que me tenta agarrar. O que poderia fazer, se eu não fugisse? Não quis descobrir. Fujo. Fujo a sete pés, até entrar no primeiro lugar onde uma porta acedeu a abrir-se para mim. Era um sítio húmido, sujo, de uma atmosfera bassa e sulfurosa: uma velha casa de banho pública, carregada de visco, mofo e pó.
Era horrível, mas não me sentia observado. Cheguei-me ao lavatório rachado. Abria a torneira. Felizmente ainda tinha água; lavei a minha cara; sentia as veias a pulsarem o sangue quente na minha cabeça e o meu cérebro doente queixa-se e lateja contra o meu crânio.
Ao levantar a cabeça, vi-me ao espelho e aí percebi: talvez houvesse razão para tudo o que me acontecia. Ao olhar para o meu reflexo comecei a sentir uma repulsa incontrolável. Sentia a derradeira perseguição.
Eu próprio estava a perseguir-me e o meu reflexo pareceu rir-se para mim trocista...

2 comentários:

  1. Serás tu, ou outra coisa? Que mais existe além do "eu", que vemos num reflexo? há algo mais que isso. Algo além das vozes, dos sons, dos chamamentos pelo nosso nome, que quando olhamos não está? E os suspiros e sussurros no nosso ouvido, frios e mortos mas sedutores? Que são?

    Brutal.

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